A Senhora Yoko Ono, viúva de estridentes gemidos de John Lennon, lá na época de setenta já chamava a atenção para a hipocrisia da sociedade, que costuma taxar como baixa pornografia o som dos amantes durante o ato sexual, enquanto nem se abala com a violenta poluição sonora provocada por um jato levantando vôo.
Oh! Que trágico destino!
Preferir-se o assassino,
Ao amante mais leal!
É que bandidos são úteis
E nós, os amantes, fúteis.
Vulgaridade do mal.
Belchior-Francisco Casaverde.
De há muito parei de ler sobre informática, pois me nego terminantemente a ser novamente alfabetizado em outra língua alienígena repleta de estrangeirismos, através de artigos povoados por palavras que nem sequer existem nos dicionários da língua portuguesa, em textos que além de burros são mal intencionados, ao querer, por exemplo, atribuir ao “i” o fonético “ai”, através da insistência na palavra “site”, e subjugando um mar de gente que mal sabe ler e escrever em português, a grunhir num pobre inglês. Fico putíssimo com essa imbecilidade total de colonizado aculturado, pois bastava colocar um “e” no final de Internet, para que o termo internete se tornasse nacionalizado, mas insistem os articulistas antijacobinos, analfabetos de pai e mãe, em ficarem condicionados à idiotice de se acharem cultos, por malversarem a língua pátria.
Minha mulher diz que sou um chato, na certa que sou, mas já notaram como se usa a palavra “top”, que também não consta dos dicionários; é “top” para lá e “top” para cá, “top” onde não tem nada a ver, mas na maioria das vezes onde perfeitamente caberia a palavra topo.
Agora a palavra da moda é foco, com certeza oriunda do epicentro “fashion” da falta de instrução e cultura.
O cara acha que está sendo bacana utilizando esse tipo de vocabulário “up to date”, sempre na moda entre os empreendedores da aculturação, mas na verdade está sendo tomado por mero imbecil, quando ouvido por quem realmente sabe a língua que fala.
Por isso tanta gente se acha com tudo e não sabe porquê não vai pra frente.
Top...Top...Top.
“Vamos comigo no top (toque?) de cinco segundos”.
Hoje de manhã abri pequena concessão, pela imperiosa obrigação de ficar o mínimo de bem informado e fui ler sobre o lançamento do novo Windows Vista, que para desespero dos pusilânimes carrega o título Vista, em português.
A certa altura comentava o escrevinhador do insípido Caderno de Informática da Folha de São Paulo, sobre a segurança do sistema operacional Vista, no que tange ao uso de jogos, que podem ser monitorados quanto ao conteúdo de sexo e drogas.
Nada falava sobre o conteúdo violento que, convenhamos, os jogos eletrônicos são as próprias encarnações da violência e até concordo que censurá-los quanto a isso, seria a mesma coisa que conclamar o fim do barato de jogar ou tal como proclamar a extinção dos jogos.
A violência está em toda a parte, isso qualquer um sabe, mas lendo a Folha, no banheiro, o lugar mais adequado para esse tipo de leitura, o profundo ruído de fundo e o farfalhar das folhas do jornal me fizeram lembrar dos guinchos da Yoko Ono e do violento ‘slam’ do avião a jato, a infestar de poluição sonora o ar que ouvimos. E o ar está carregado! E o Sindacta está sem data para voltar a funcionar a contento...
Céu de brigadeiro hoje é Boeing 747, em parafuso se desfazendo no ar para logo em seguida no chão se espatifar. Imagina o som do “crash”?
Acho que em decorrência da baixa renda, que achatou a cabeça e esvaziou o bolso dos brasileiros, as cidades se transformaram numa imensa periferia, com latidos de cachorros largados sozinhos ecoando pelos corredores dos prédios, ou nos quintais e nas ruas a morder e a nos alijar do salutar silêncio, para deixar-nos babando de raiva. - Por vezes queria ser eu como Cruela Devile!
Pior ainda é o ruído de fundo provocado pelo trânsito, intensificado com o caos do transporte público e a concentração de renda que leva ao egoísmo do transporte solitário, fatores que acabam por introduzir cada vez mais carros no tráfego congestionado, rompido apenas pelo tsunami de motos, que vêm em constantes e enormes ondas, a buzinar e a cortar por entre as fileiras dos carros parados, até que algum motoqueiro se estatele morto no chão, que ninguém mais liga, em meio à corriqueira violência do trânsito.
Já repararam que o aumento do número de motos está diretamente relacionado com o empobrecimento dos países, quanto mais baixa a categoria do país, maior o número de motos, dessas pequenas de baixa cilindrada e até as chamadas “cabritas” montadas pelo próprio usuário.
Não se enganem, no entanto, achando que sou elitista, muito pelo contrário, defendo a liberdade dos feirantes gritarem suas ofertas e dos camelôs trabalharem malhando suas mercadorias, de nada adianta o conceito burguês de esconder o lixo debaixo do tapete, a pobreza econômica faz parte do Brasil real onde o povo precisa sobreviver e os incomodados, se puderem, que se mudem para a ilha da fantasia do congresso, para viver ao lado de Ali Babá.
O Windows Vista foi apresentado pelos camelôs da região da Santa Efigênia, antes mesmo de seu lançamento oficial nas lojas, ao preço de dez reais nas bancas dos ambulantes, contra os mais de mil reais que custa nos revendedores. Minha teoria é simplista; a ganância da própria indústria é que cria a pirataria.
Será que alguma gravadora, alguma vez já pagou direitos autorais aos diversos artistas que compõem uma gravação do tipo Os Melhores de Qualquer Coisa?
Pirataria oficial?
O Bill Gates deseja se aposentar após a consolidação do sistema operacional Windows Vista, projetado para faturar mais de vinte bilhões de dólares. Pra quê? Para se manter em primeiro lugar do ranking do homem mais rico do mundo, ganhando o prêmio maior da atrocidade capitalista de concentrar renda.
A Megasena premiou o mendigo Sena com quarenta e dois milhões de reais, pagos com a própria vida. Agora a viúva milionária está dormindo no colchonete.
Ora, isso é prêmio para Genibaldo. Por que não cem mil reais para quatrocentos e vinte mendigos, ou mesmo mil reais para quarenta e dois mil mendigos, quem sabe um salário mínimo por mês para os milhões de famílias que vivem no mais puro - se é que existe pureza no - estado de miséria.
“Ei! Você aí, me dá um dinheiro aí”.
Brasil; país de pedintes... Governado por ladrões.
A falta de escola e a completa falta de perspectiva gerada pelo modelo econômico que aí está, são as causas principais da poluição sonora, que se manifesta das mais diversas e variadas formas, desde o espocar terrificante das balas perdidas no tiroteio, que passam raspando e zunindo em nossos ouvidos e sempre dão de encontro com inocentes, numa versão moderna de poluição sonora praticada pelo crime organizado e divulgada em cadeia patrocinada pelo jornal nacional; ou mesmo no zumbido angustiante do mosquito da dengue atormentando nossos ouvidos em meio ao definhar da saúde pública anunciada no “zumbizar” do pronunciamento inocente das(os) sanguessugas, e tudo isto sem não antes passar pela perturbação do vizinho que mora ao lado, com seu som a mil nas coxas da Joelma penetrando o colapso.
Desde a ondulante pélvis do Elvis, até o balouçar da desnuda bunda da madrinha da escola, o palco sonoro da poluição que infesta nosso ar rarefeito de qualidade atravessa qualquer blindagem anecóica, entra pelos ouvidos e danifica o cérebro.
A poluição sonora tem fundo social e tais os demais males do nosso subdesenvolvimento, ela também pode ser explicada pela falta de escola, educação e cultura, pela falta de oportunidades e pelas condições de miséria em que vive o nosso povo. Que tal depois do Fome Zero o ruído zero? Porque já estamos de saco cheio de tanto som zero.
O pesado sistema operacional Windows Vista, que particularmente me parece um furo n’água, vai continuar vendendo aos borbotões, como aconteceu no lançamento oficial, em que a Fenac vendeu quase que imediatamente todo o estoque e o que acabou primeiro foi a versão mais cara.
A rapeize compra apenas pra ficar na moda, como se fosse uma camisa nova.
Chega em casa e não roda, porquê superpesado requer mais de um mega de memória “cash”.
Vi na TV um cara do setor têxtil reclamar que com este atual baixo valor do dólar, não dá para competir com o produto chinês. E se o dólar passasse a valer dez reais, por acaso daria para competir com o produto chinês?
Um país de quase cento e sessenta milhões de habitantes, cujo mercado interno não passa de seis milhões de abastados, que podem comprar o que bem entenderem, venha de onde quer que venha e não importe o quanto custe, sinceramente não é mercado nenhum, antes sim é uma grande piada.
Tal o cão a ladrar, poluição sonora é ouvir o Lula a discursar num dialeto estranho e tacanho, que me faz recordar do negão pirata do Asterix, com inspiração forjada nas forçadas dublagens nacionais do crioulo doido.
Desde a poluição sangrenta do Golpe, com gemidos e gritos sufocados em surdina, até a imposição do neoliberalismo, para nos manter sob a sola do sapato da globarbarização, a droga sonora agride os ouvidos, feito o ‘slep’ do chinelo de dedo, feito o ‘slam’ do avião a jato e bate no coração perturbando o cérebro com o ronco do estomago.
Viva o som dos humanos se amando!
Rui Fernando Costa.