Achamos por bem nunca falar mal de ninguém aqui no Café Audiofilia, já que temos mais o que fazer, do que perder tempo com insignificâncias.
Preferimos sempre destilar nosso veneno maldoso pra cima de um equipamento qualquer e na maior crueldade dar cabo de aparelhos, que coitados nem sequer podem se defender. Melhor ainda é com ares de pai da matéria malhar determinado cabo, ou mesmo detonar implacavelmente acessórios metidos a besta.
Muito... Mas muito mais gratificante, e ainda faz bem ao fígado.
A partir de agora pretendo inaugurar uma série de análises e testes nos equipamentos que passam pelo meu laboratório. Não que eu já não tenha analisado aparelhos anteriormente, mas quero fazer disso uma prática, minha pequena contribuição para preencher a lacuna existente nas publicações especializadas, no que se refere à falta de sustância nas informações técnicas, coisa de que tanto reclamo.
Sou contra a mania absurda - abraçada pela quase totalidade das publicações - de isolar o objeto de análise no vácuo e a partir daí tecer os mais estapafúrdios comentários nitidamente comprometidos.
Nem sei se ele o fez, mas pra dar uma de metido vou creditar ao gênio linguarudo Einstein, a observação de que tudo é relativo e tudo tem relação.
Equipamento de áudio não pode ser analisado de forma isolada, sem que seja levada em conta a relação dele para com o mercado e o consumidor. Aparelhos têm história e finalidade, muitas vezes acompanhadas de extenso pedigree, assim como também conferem posição e revelam a intenção de quem os compra.
Sem pretender transformar equipamentos em réus, vou inseri-los no mais amplo e abrangente contexto, buscando não desrespeitar a inteligência do leitor e situando convenientemente todos os objetos de teste que estiverem sob nossa análise.
Aparelhos de grife consagrada devem apresentar qualidade à altura do que pretendem significar e montagens artesanais caseiras serão quase sempre benevolamente tratadas, quando não for o caso de também atirá-las aos leões. Quem sobreviver verá.
Para conduzir as avaliações contarei com meus colaboradores de costume, mas também conclamo a interatividade de todos que saboreiam o Café Audiofilia, a sorver e participar desse prazeroso afazer.
Os equipamentos serão tecnicamente esmiuçados em nosso laboratório, que conta com ferramental e instrumentação apropriada, que vai desde valvulados, como os osciloscópios da Leader e Heatkit, ou os multímetros e voltímetros Simpson, até os sólidos duplos traços da Tektronix, mais recentemente incrementados com os digitais da ProteK, além da festa de VU’s e bargraphs, geradores de sinais e analisadores, que irão sendo apresentados conforme a realização das medições.
As audições se darão em sala de escuta que não conta com nenhum recurso especial ou mirabolante, reproduzindo de maneira fiel e cruel os ambientes em que normalmente os aparelhos são instalados e obrigados a trabalhar.
Na minha adolescência floresceu o gosto pela eletrônica, que acabou encaminhando toda a minha vida, o passo seguinte foi a paixão pelo áudio, que se fundamentou nas páginas das publicações estrangeiras especializadas.
Por mais de quarenta anos assisti as revista de áudio perderem gradativamente seu caráter técnico e serem paulatinamente invadidas por um mercantilismo degradante, que leva os leitores à bestificação, seja pela falta de qualidade na informação, seja pela tendenciosidade, ou mesmo pela incompetência técnica de quem escreve, com conseqüências diretas na capacidade do questionamento por parte dos leitores.
Encontrei há cerca de dez anos o magazine japonês MJ (Music to Jinken), que tem um perfil inusitado e diferente de tudo aquilo a que eu estava acostumado, e que muito me influenciou e ajudou a ver com outros olhos a babaquice que outras publicações tentam nos empurrar.
Na MJ, simplesmente não existem análises poéticas contemplativas a respeito de nuances sonoras e, se por um lado a revista aborda equipamentos comerciais e o mercado de áudio, por outro lado se atém a fazer revelações técnicas incluindo um profundo mergulho na eletrônica.
Não existe em nenhuma língua termos específicos que revelem as mais variadas e diferentes nuancem sonoras relacionadas ao mundo do áudio, daí que se aproveitar de licença poética para jacular com intenções comerciais as maravilhas sonoras de determinado produto, além de encher nosso saco com o mais puro Nada, e com uma relativização tão flexível que faria Einstein corar, em nada contribui para o enriquecimento da lingüística.
E chega de papo furado, pois conforme os equipamentos forem sendo analisados teremos oportunidade para colocar mais informações a respeito da conduta geral que norteará nossos testes, caso porventura haja uma conduta geral.
Um grande abraço,
Rui Fernando Costa.