Café Audiofilia


terça-feira, 20 de maio de 2008

O ocultismo do oculto nas gravações

É muito comum que um audiófilo após enfiar os chifres em dívidas para adquirir um sistema verdadeiramente Hi-End (sic), (nunca menos de uns US$50.000,00, é claro, já que na cabeça dele algo mais barato jamais reproduzirá música com alta resolução), ao sentar para ouvir a cedêteca reproduzida pelos novos equipamentos, não raramente exclama pérolas do tipo: "como eu nunca tinha ouvido o timbale nessa passagem da música?", ou "eu nunca tinha notado que havia um piano nesta gravação!".

Na boa... Fala sério: você acha que os caras que masterizam gravações escondem sons (vide: easter eggs), para que somente quem possua equipamento milionário possa ouvi-los? Mesmo? Eu não.

Se o engenheiro de gravação não deixou tal instrumento evidente em uma gravação, é porque ele não quis que aquele instrumento ficasse evidente. Simples assim.

No recente CD de uma renomada Big Band, a qual leva o mesmo nome do líder saxofonista, todos daqui de Santos, a gravação e masterização foram feitas na Alemanha e, de tão baixo, por ser colocada em último plano ficou praticamente impossível ouvir a guitarra na maioria das faixas.

E por quê?

Porque o consagrado "band-leader" saxofonista, junto com o engenheiro de gravação, durante o processo de masterização decidiram que a guitarra não seria importante.

O guitarrista da banda, que é meu amigo, me confessou ter ficado bastante ressentido, pois sabe que o trabalho dele foi "ocultado" propositalmente.

E em nenhum momento ocorreu-lhe que, talvez, sei lá, quem sabe, se por ventura comprasse um sistema de US$50.000,00, conseguiria ouvir sua guitarra propositalmente escondida.

Sem falar da espetacular capacidade auditiva dos "reviewers", que ao testar um simples par de cabos escrevem, na cara dura, que com tais cabos foi possível ouvir as unhas do pianista batendo nas teclas do piano, mosquitos (tomara que não seja dengue) zunindo pelo estúdio de gravação, e que a narina esquerda da cantora estava entupida (tomara não seja pó).

Como é? Os seus ouvidos não conseguem captar toda esta riqueza dos detalhes propositalmente ocultos nas gravações? Confie em mim: Nem os deles.

E só há duas explicações para um cara escrever este tipo de abobrinha: Má fé, para vender equipamentos dos anunciantes, ou esquizofrenia.

Eu sinceramente prefiro acreditar na segunda hipótese.


Durval Moruzzi