Café Audiofilia


terça-feira, 26 de maio de 2009

Receivers Vintage: os antigos receptores.

 

Preâmbulo explicador:

Escrevi o texto abaixo fazendo uso do termo “receiver vintage”, mas depois que li na integra bateu em mim algum instinto de preservação da língua e mudei o estrangeirismo para “antigos receptores”, termo mais condizente com meu jacobinismo, embora esse não seja o nosso modo colonizado comum de falar e raciocinar.

Sintonizando.

O que vou contar agora também pode muito bem valer para amplificadores integrados, pois afinal os antigos receptores nada mais são do que amplificadores integrados aos quais foram incorporados sintonizadores.

Nos receptores mais modernos, hoje quase que exclusivamente destinados ao home-theater, além do sintonizador, até meio sem utilidade para o emprego atual dos receptores HT, se incorporaram outras funções, tais como processadores de som e efeitos sonoros, controladores lógicos para som em diversos ambientes, além da necessária integração dos sinais de vídeo.

Essas novas funções foram incorporadas aos receptores HT através do uso de modernos circuitos integrados dedicados, que na sua grande maioria são exclusivos para determinadas linhas de produtos e que de uma hora pra outra deixam de existir, não sendo mais encontrados nos habituais fornecedores de componentes.

Eu pessoalmente, como prestador de serviços de assistência técnica, praticamente não mais aceito tais equipamentos para conserto e sempre indico ao proprietário do aparelho receptor HT, que procure a assistência técnica autorizada da marca, à qual cabe a incumbência de se responsabilizar pela manutenção.

De volta para o futuro.

Os antigos receptores vão à contramão dessa história, mas chegam praticamente ao mesmo destino.

Embora não sofram do mal gerado pelo descarte na forma de excesso de lixo, em função do atropelo das tecnologias praticado hoje em dia, que na maioria das vezes se dá pela simples adoção de um novo conector incompatível com todo o resto.

Os antigos receptores também sofrem pela falta de peças de reposição, só que devido à defasagem do tempo, que tornou muitas peças obsoletas, as quais conseqüentemente deixaram de ser produzidas.

Invasão de corpos.

O termo amplificador integrado se refere à união, em um mesmo chassi, de um ou mais amplificadores de potência, com um ou diversos preamplificadores.

A menção de diversos preamplificadores se dá porque no meu entender os diversos estágios de preamplificação são segmentados em várias etapas, tais como pré-amplificador de linha, de fono, de tom e pré-amplificador controlador, onde estão os comandos e seleções das diversas funções.

É comum a qualidade dos amplificadores de potência, inseridos nos antigos receptores, ser superior à dos amplificadores mais modernos e atuais, especialmente pelo uso de transistores classificados como Hi-Fi, disponíveis em muitos dos antigos receptores, e pela escassez desses transistores nos dias de hoje, em que a qualidade sonora baixou consideravelmente.

Com os preamplificadores contidos nos antigos receptores, o mesmo não acontece, pois apesar dos transistores aplicados serem normalmente de excelente qualidade, a profusão de chaves e controles, incluindo-se aí o circuito de tonalidade, em muito contribuem para a deterioração do sinal, sendo os maus contatos, a baixa isolação e a diafonia, os problemas mais comuns aos antigos receptores.

Uma das melhorias que normalmente aconselho aos usuários de antigos receptores é a adição de um pré-amplificador separado, e minha preferência sempre recai sobre os preamplificadores valvulados, que funcionam maravilhosamente bem em parceria com a seção de potência dos antigos receptores.

Limites superiores.

Dessa forma se limitam minhas recomendações para a utilização de receptores antigos, embora saiba que exista uma legião de fãs desses aparelhos, que além do chamativo apelo visual, numa deliciosa mistura de kitsch com chique, em doses personalizadas de exclusividade, a maioria desses aparelhos conta ainda com uma excelente sonoridade difícil de encontrar nos equipamentos mais modernos.

Mas há que persistir o alerta de que os receptores antigos são suscetíveis a, de um momento para o outro ter um treco e ir pro beleléu. O que não é assim tão traumatizante na conjuntura atual, em que um moderno receptor de HT dificilmente sobrevive à maioria dos defeitos apresentados em poucos anos de uso.

E a mesma regra válida para outros equipamentos, também se aplica aos antigos receptores, que quanto mais potentes, mais suscetíveis ficam, portanto, se quiser um pouco mais de confiabilidade escolha os receptores menos potentes.

Existem receptores antigos com defeitos característicos, tais como os transformadores dos Marantz 2500, ou a topologia “diretamente acoplada” dos Sansui, e outros tantos problemas generalizados, como, por exemplo, a atual inexistência de circuitos integrados de FETs lineares, que simplesmente inutiliza a seção de preamplificação e quase sempre atinge o aparelho inteiro.

Nem Freud explica.

Mas muitas vezes os problemas dos receptores antigos os tornam mais interessantes e atraentes, só assim consigo explicar porque tenho verdadeiro fascínio pelo meu Marantz Nineteen Custom, repleto de peças que não existem mais, a sobreviver constantemente no fio da navalha, convivendo sempre com o risco iminente de dar defeito e ir pro brejo.

Mais me orgulha a exclusividade.

Mais me excita o visual misto de refinado e retrogrado.

Mais me apaixona a sonoridade impar.

Vai entender...

Rui Fernando Costa.