Eu, sinceramente, penso nos receptores vintage de forma divergente daquela que o antigo anúncio da Marantz quer dar a entender.
Pra mim, esses aparelhos não são tanques de guerra indestrutíveis, mas sim equipamentos grandões e pesados, de enorme complexidade, cujo organismo interno é repleto de órgãos, conexões nervosas, artérias principais e vasos comunicadores.
São como Pantagruel, que necessitam de amor e cuidados especiais para corresponder em toda a sua plenitude.
Operações de conserto e ações invasivas nos intestinos internos desses gigantes são atos de enorme risco que só devem ser executados por junta de profissionais especializados, já acostumados com os emaranhados e com bagagem suficiente para tal aventura.
O interior dos aparelhos é bem estufado e super povoado de componentes, muitas vezes únicos e dificilmente encontráveis para reposição.
A contra partida do carinho dispensado aos receptores vintage é a maravilhosa qualidade sonora com que eles enchem nossa sala e regozijam nossos sentidos.
Um receptor vintage está via de regra anos luz à frente da maioria dos receivers de Home Theater em termos de qualidade sonora.
Para manter um receptor vintage funcionando a contento há que se tomar uma série de precauções, as quais eu relaciono a seguir numa espécie de áudio dicas.
Alguns cuidados básicos:
Instalar o aparelho em lugar firme e plano e com bom espaço para ventilação (respiro).
Não encostar a parte traseira na parede e nem em outro lugar qualquer.
As conexões traseiras precisam de espaço livre.
Nunca obstruir a circulação do ar pelas entradas do fundo do aparelho e saídas da tampa de cima.
Se empilhar aparelhos em cima do aparelho deixar pelo menos 5 cm para que o ar possa se exaurir pela tampa de cima.
De preferência nunca colocar nada em cima do receptor.
Cuidado especial com a umidade, que é inimiga mortal da aparelhagem.
O aparelho deve ser ligado a uma rede elétrica estável e confiável.
As caixas acústicas ligadas a ele devem estar em bom estado e ter potência admissível e impedância adequada ao poderio da saída.
As fontes sonoras devem estar em ordem e não apresentar defeitos na transmissão sonora.
Somente ligar e desligar o aparelho com o volume completamente abaixado (zerado).
Nunca deixar o aparelho parado por muito tempo.
De vez em quando acionar todas as chaves e potenciômetros do aparelho repetidamente.
Nunca utilizar micro-óleo (tipo WD40) em hipótese nenhuma.
Utilizar cabos e conexões de qualidade.
Uma vez por ano, ou a cada seis meses limpar os conectores do aparelho com limpa contatos de qualidade (Fospro Hellerman, por exemplo).
Para limpeza externa utilizar somente um pano macio levemente embebido em lustra móveis com silicone.
Nunca esquecer que apesar da aparência robusta e de serem máquinas maravilhosas, os receptores vintage têm pelo menos 30 anos de serviços prestados e como outro qualquer aparelho de elevada potência requerem cuidados especiais.
Big abraço,
Rui Fernando Costa
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Receptores antigos II.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Compactrons! Enormes esquecidas.
As compactrons são mesmo grandes opções para o hobista amador. Eu devo ter um saco delas porraqui.
Claro que já se foi o tempo em que se achava esse tipo de válvula às pencas nos lixos e nos sacos dos sonhos das lojas retalhistas de São Paulo. Os soquetes para elas sempre foram muito mais difíceis de se achar, e a sua raridade constituiu o motivo principal da falta de incentivo para o emprego das compactrons em projetos de áudio amador.
Mas pensar na oferta em termos regionais é um sinal ultrapassado pelos tempos, já que hoje a oferta se dá no âmbito mundial, embora as encrespações de governos tacanhos e a logistica capenga ainda comunguem contra um mercado realmente globalizado ao (baixo?) nível do populacho.
A revista japonesa MJ mostra sempre na frente as tendências e as possibilidades em valvulados, e nas páginas desse conceituado magazine também sempre houve espaço para projetos utilizando compactrons.
Bela iniciativa para construir algo realmente diferente da mesmice que ocupa as mentes sem a opção do conhecimento.
Big abraço,
Rui Fernando
Amigos, Como experimentador, eu estou sempre testando válvulas audiófilas e válvulas alternativas, tais como válvulas de TV e de transmissão, nos meus projetos.E ultimamente tenho usado muito as válvulas de TV, em especial as compactrons, que são excelentes e baratas...O amplificador com a 6JD5 ficou excelente, o som ficou excepcional, nada deve às melhores válvulas de áudio. A potência ficou boa, acredito que cerca de 15W.Inicialmente eu tinha problemas com a pequena excursão de placa da 6JD5, mas resolvi isso com um circuito um pouco diferente, que faz com que a 6JD5 tenha grande ganho de corrente, de modo que no final, a potência ficou boa.Agora estou pesquisando outra compactron, a 6FJ7, um duplo triodo, em que temos um triodo com ganho similar a uma 12AU7 e outro de potência, com ganho bom, para usar na saída, e resistência de placa baixa, cerca de 2K, o que facilita o design do transformador de saída, que será de cerca de 5K.Ou seja, com apenas uma compactron, você monta um canal de um amplificador single ended de cerca de 3W de saída...com duas você monta um canal de um amplificador push-pull, com phase-splitter e tudo mais...Essa 6FJ7 é encontrada nos EUA por apenas 1 dólar, ou seja...menos que um transistor...
Procurando sobre as compactrons, achei essa página interessante:
http://www.junkbox.com/electronics/CompactronTubesIndex.shtml
Alguns projetos:
http://www.angelfire.com/vt/audio/compactron.html
http://diyaudioprojects.blogspot.com/2008/09/ultra-linear-6t9-diy-tube-amplifier.html
Ao contrário do que o autor do primeiro projeto diz, é possível fazer um amplificador com qualidade similar a um projeto com 300B ou 2A3, basta usar uma compactron com boas características e caprichar no projeto... Em áudio DIY tudo é possível...
terça-feira, 26 de maio de 2009
Receivers Vintage: os antigos receptores.
Preâmbulo explicador:
Escrevi o texto abaixo fazendo uso do termo “receiver vintage”, mas depois que li na integra bateu em mim algum instinto de preservação da língua e mudei o estrangeirismo para “antigos receptores”, termo mais condizente com meu jacobinismo, embora esse não seja o nosso modo colonizado comum de falar e raciocinar.
Sintonizando.
O que vou contar agora também pode muito bem valer para amplificadores integrados, pois afinal os antigos receptores nada mais são do que amplificadores integrados aos quais foram incorporados sintonizadores.
Nos receptores mais modernos, hoje quase que exclusivamente destinados ao home-theater, além do sintonizador, até meio sem utilidade para o emprego atual dos receptores HT, se incorporaram outras funções, tais como processadores de som e efeitos sonoros, controladores lógicos para som em diversos ambientes, além da necessária integração dos sinais de vídeo.
Essas novas funções foram incorporadas aos receptores HT através do uso de modernos circuitos integrados dedicados, que na sua grande maioria são exclusivos para determinadas linhas de produtos e que de uma hora pra outra deixam de existir, não sendo mais encontrados nos habituais fornecedores de componentes.
Eu pessoalmente, como prestador de serviços de assistência técnica, praticamente não mais aceito tais equipamentos para conserto e sempre indico ao proprietário do aparelho receptor HT, que procure a assistência técnica autorizada da marca, à qual cabe a incumbência de se responsabilizar pela manutenção.
De volta para o futuro.
Os antigos receptores vão à contramão dessa história, mas chegam praticamente ao mesmo destino.
Embora não sofram do mal gerado pelo descarte na forma de excesso de lixo, em função do atropelo das tecnologias praticado hoje em dia, que na maioria das vezes se dá pela simples adoção de um novo conector incompatível com todo o resto.
Os antigos receptores também sofrem pela falta de peças de reposição, só que devido à defasagem do tempo, que tornou muitas peças obsoletas, as quais conseqüentemente deixaram de ser produzidas.
Invasão de corpos.
O termo amplificador integrado se refere à união, em um mesmo chassi, de um ou mais amplificadores de potência, com um ou diversos preamplificadores.
A menção de diversos preamplificadores se dá porque no meu entender os diversos estágios de preamplificação são segmentados em várias etapas, tais como pré-amplificador de linha, de fono, de tom e pré-amplificador controlador, onde estão os comandos e seleções das diversas funções.
É comum a qualidade dos amplificadores de potência, inseridos nos antigos receptores, ser superior à dos amplificadores mais modernos e atuais, especialmente pelo uso de transistores classificados como Hi-Fi, disponíveis em muitos dos antigos receptores, e pela escassez desses transistores nos dias de hoje, em que a qualidade sonora baixou consideravelmente.
Com os preamplificadores contidos nos antigos receptores, o mesmo não acontece, pois apesar dos transistores aplicados serem normalmente de excelente qualidade, a profusão de chaves e controles, incluindo-se aí o circuito de tonalidade, em muito contribuem para a deterioração do sinal, sendo os maus contatos, a baixa isolação e a diafonia, os problemas mais comuns aos antigos receptores.
Uma das melhorias que normalmente aconselho aos usuários de antigos receptores é a adição de um pré-amplificador separado, e minha preferência sempre recai sobre os preamplificadores valvulados, que funcionam maravilhosamente bem em parceria com a seção de potência dos antigos receptores.
Limites superiores.
Dessa forma se limitam minhas recomendações para a utilização de receptores antigos, embora saiba que exista uma legião de fãs desses aparelhos, que além do chamativo apelo visual, numa deliciosa mistura de kitsch com chique, em doses personalizadas de exclusividade, a maioria desses aparelhos conta ainda com uma excelente sonoridade difícil de encontrar nos equipamentos mais modernos.
Mas há que persistir o alerta de que os receptores antigos são suscetíveis a, de um momento para o outro ter um treco e ir pro beleléu. O que não é assim tão traumatizante na conjuntura atual, em que um moderno receptor de HT dificilmente sobrevive à maioria dos defeitos apresentados em poucos anos de uso.
E a mesma regra válida para outros equipamentos, também se aplica aos antigos receptores, que quanto mais potentes, mais suscetíveis ficam, portanto, se quiser um pouco mais de confiabilidade escolha os receptores menos potentes.
Existem receptores antigos com defeitos característicos, tais como os transformadores dos Marantz 2500, ou a topologia “diretamente acoplada” dos Sansui, e outros tantos problemas generalizados, como, por exemplo, a atual inexistência de circuitos integrados de FETs lineares, que simplesmente inutiliza a seção de preamplificação e quase sempre atinge o aparelho inteiro.
Nem Freud explica.
Mas muitas vezes os problemas dos receptores antigos os tornam mais interessantes e atraentes, só assim consigo explicar porque tenho verdadeiro fascínio pelo meu Marantz Nineteen Custom, repleto de peças que não existem mais, a sobreviver constantemente no fio da navalha, convivendo sempre com o risco iminente de dar defeito e ir pro brejo.
Mais me orgulha a exclusividade.
Mais me excita o visual misto de refinado e retrogrado.
Mais me apaixona a sonoridade impar.
Vai entender...
Rui Fernando Costa.
terça-feira, 20 de maio de 2008
O ocultismo do oculto nas gravações
É muito comum que um audiófilo após enfiar os chifres em dívidas para adquirir um sistema verdadeiramente Hi-End (sic), (nunca menos de uns US$50.000,00, é claro, já que na cabeça dele algo mais barato jamais reproduzirá música com alta resolução), ao sentar para ouvir a cedêteca reproduzida pelos novos equipamentos, não raramente exclama pérolas do tipo: "como eu nunca tinha ouvido o timbale nessa passagem da música?", ou "eu nunca tinha notado que havia um piano nesta gravação!".
Na boa... Fala sério: você acha que os caras que masterizam gravações escondem sons (vide: easter eggs), para que somente quem possua equipamento milionário possa ouvi-los? Mesmo? Eu não.
Se o engenheiro de gravação não deixou tal instrumento evidente em uma gravação, é porque ele não quis que aquele instrumento ficasse evidente. Simples assim.
No recente CD de uma renomada Big Band, a qual leva o mesmo nome do líder saxofonista, todos daqui de Santos, a gravação e masterização foram feitas na Alemanha e, de tão baixo, por ser colocada em último plano ficou praticamente impossível ouvir a guitarra na maioria das faixas.
E por quê?
Porque o consagrado "band-leader" saxofonista, junto com o engenheiro de gravação, durante o processo de masterização decidiram que a guitarra não seria importante.
O guitarrista da banda, que é meu amigo, me confessou ter ficado bastante ressentido, pois sabe que o trabalho dele foi "ocultado" propositalmente.
E em nenhum momento ocorreu-lhe que, talvez, sei lá, quem sabe, se por ventura comprasse um sistema de US$50.000,00, conseguiria ouvir sua guitarra propositalmente escondida.
Sem falar da espetacular capacidade auditiva dos "reviewers", que ao testar um simples par de cabos escrevem, na cara dura, que com tais cabos foi possível ouvir as unhas do pianista batendo nas teclas do piano, mosquitos (tomara que não seja dengue) zunindo pelo estúdio de gravação, e que a narina esquerda da cantora estava entupida (tomara não seja pó).
Como é? Os seus ouvidos não conseguem captar toda esta riqueza dos detalhes propositalmente ocultos nas gravações? Confie em mim: Nem os deles.
E só há duas explicações para um cara escrever este tipo de abobrinha: Má fé, para vender equipamentos dos anunciantes, ou esquizofrenia.
Durval Moruzzi
Jogo é jogo, mas será que treino é treino?
Das suposições.
“...a audiofilia é repleta de dogmas, crenças, verdades reveladas, processos de canonização, relíquias, fé sem provas, e um quase desprezo pelas comprovações cientificamente testadas (prova cabal e definitiva é uma espécie de heresia e soberba contra audiófila)”. Douglas Bock
Suposições do Holbein:
- tenhamos que todos os “bits” do “stamper” original hajam sido estampados. No processo da prensagem industrial, e em série, e em massa, todos os “bits” hajam sido estampados nos policarbonatos dos discos virgens, os futuros cedês;
- tenhamos, ainda – em face da alta velocidade usada no processo de estampagem industrial –, que os discos compactos (CDs) não sejam a exata replicação dos “stampers”, situação possível, e provável. Quem já viu em ação a complexa e complicada máquina de replicação, viu que braços mecânicos movidos por sensores programáveis, na rapidez de um piscar de olhos selecionam os discos “bons” e os com “defeitos”, isto é, fora do padrão programado. Portanto, há um padrão para tal seleção, e se o há, existe a possibilidade de esse padrão não ser rigorosamente seguido na mecânica da estampagem; porque se não fosse assim, para que detectores de defeitos, hem (?);
- tenhamos, também, que esse padrão não contemple, por exemplo, a exata “dimensão” física dos “bits”, representados por 0 e 1. Em outras palavras, talvez todos os “bits” da estampagem sejam replicados, todos, mas não com a exatíssima “dimensão” (amplitude? relevo? o quê?) do “stamper” original, quiçá em decorrência da alta velocidade do processo de estampagem industrial que negligencia sutis detalhes, como sói acontecer com todo processo industrial
- tenhamos, pois e por fim, que na cópia dos cedês, que se processa em baixa velocidade, os “bits” dimensionados em menor no disco original são lidos pelo computador (uma vez que estão no CD) e, na cópia artesanal que o computador faz, tais “bits”, digamos “fracos” do disco original (CD) podem vir a ser redimensionados e ficarem mais conformes os “bits” do “stamper”. E na leitura da cópia isso seria evidenciado.
Reconheço, são suposições.
Mas o fato é que todos os que já fizemos cópias temos sido unânimes em afirmar, aqui e alhures, que a cópia ficou e fica sempre “melhor” que o original. Em que sentido? Pois, seguramente nos sutis detalhes, em especial da ambiência; porquanto se “escuta” com mais nitidez o ambiente em que foi feita a gravação. Constata-se uma espécie de “eco” na cópia – o som da aeração? – que não se ouve no disco original, e escolho o termo eco não por seu significado de “...reflexão de uma onda acústica por um obstáculo...” mas por aquele encompridamento de tons e acordes que caracterizam a música ao vivo, tons e acordes que não “morrem” tão logo emitidos; aquela “morte subita” que torna a música em conserva dos discos compactos por vezes “seca”, às vezes asséptica, sem ressonância, como se gravada em sala acusticamente morta.
Porque nas cópias nos surpreendemos por vezes com sutis detalhes transitórios: um rápido e leve e descuidado toque numa corda; a batida da baqueta no prato milésimos de segundos antes de o prato vibrar e soar; as vibrações das palhetas de saxofones e clarinetes, e até o sopro das vozes humanas contra os dentes dos cantores; “coisinhas” miúdas que os musicistas experimentados na arte da escuta chamam de “sujo musical”. Sujos nem sempre notados nos cedês originais.
Por quê? – eis a pergunta que nos fazemos.
Da Verdade.de um cientista:
(Por Ronaldo Menezes,
Professor do “Florida Institute of Technology”,
Bacharel, Mestre e Doutor em Ciência de Computação.)
“Acho extremamente improvável que haja diferença entre as duas fontes.
Assumindo que todas as variáveis são as mesmas, como o autor sugere (refere-se ao artigo de Mr. Robert Harley, da “the absolute sound”- HM) – inexistência de erro de leitura, por exemplo –, é impossível que o som seja diferente. A princípio pensei que a diferença poderia ser da conversão dos dados digitais (DAC), mas o autor parece dizer que usa igual marca de DAC. Sendo assim, a ÚNICA diferença entre a leitura de um CD (ou CD-R) e um HD é a taxa de leitura de dados.
Um HD (“hard disk”) trabalha com taxa de leitura em torno de 1Gbit/sec.,
ou, exatamente, 1.073.741.824 bits por segundo. A taxa de leitura de um
CD-R (com velocidade 1x) é de 75 setores por segundo. Um setor em CD-R tem 1.411.200 bits. Mesmos os aparelhos mais modernos, que lêem na velocidade
52x, lêem "apenas" 73.382.400 bits em um segundo -- mais de 14 vezes
mais lento.
Assim sendo, a única explicação plausível para a “melhora” proclamada pelos audiófilos seria pelo fato de que a capacidade de leitura do HD permite que a conversão de dados use mais bits.
Porém não tenho como me convencer de que isso é possível. Os CD-R atuais
possuem “buffers” de mais de 40 segundos. O que quer dizer que o som tocado pode ter sido lido a 40 segundos atrás. Esse "buffer" permitiria que os CD-R tivessem a mesma performace dos HD – o mesmo número de bits
Quanto à afirmação que CDs "baixados" em HD seriam melhores, só seria
possível se o CD tivesse mais informação do que o aparelho pode ler, o que certamente não acontece (como mencionei acima). Vou além. Ainda
que tivesse mais informações, essas não seriam processadas quando
a informação no HD fosse novamente passada a um CD-R. O aparelho do CD-R não processaria a informação da mesma forma que não o faria no CD. Mas isso não existe. Ninguém grava informação em CD que não precisa. Nós, "computeros", já teriamos feito experimentos e descoberto isso.
Na verdade, é possível baixar as informações de um CD em HD e executar
um comando no sistema operacional Linux, comando chamado "diff" que mostra as diferenças entre arquivos. Agora mesmo fiz um experimento e a execução do "diff" mostrou que os dois arquivos são iguais (iguais bits em sequência semelhante).
Voltamos então ao DAC. Não se pode criar informação que não existe. Até poderíamos fazer uma interpolação de dados e converter a resolução do CD em algo maior (digamos de 16 bits para 24 bits), mas a "interpolação" não criaria som melhor porque teriamos que converter os 16 bits para analogico e reconverter
para digital (DAC - ADC). (Existe outra forma mas seria ainda pior).
Uma outra observação: existe muito erro de leitura quando baixamos um arquivo de musica de DVD para HD. O único software que conheço que não gera erros é o "Exact Audio Copy" porque este copia e executa vários comandos "diff". Se por acaso acha alguma diferença entre os dados, torna a ler.
Existe uma forma muito fácil de verificar se o som é diferente ou não está apenas na cabeça (ouvidos) do audiófilo. Grava-se os dois sons e se faz uma análise espectral deles. Algo semelhante como fazer um "diff" (diferença) entre os dois sons. Em condições adequadas, o resultado do “diff” tem que ser "silêncio".
Última observação: há outra situação que pode acontencer e que poderia ocasionar a diferença constatada por vocês audiófilos. Um aparalho de CD funciona atirando um “laser” no CD e captando as distorções da refração da luz. Bem, seria possível que o CD-R (o gravado em casa) tivesse uma melhor refração?! É possivel mas acho improvável uma vez que o material do CD original é da mais alta qualidade e de maior tempo de vida.
Mas pode ser a explicação...
Holbein Menezes
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Audiofilia primata; ‘capetalismo’ selvagem.
O bom audiófilo é assim: o som está acima de tudo, dos amigos, da mulher e até dos filhos.
Meu amigo me confessou que ultimamente o som vem lhe dando mais prazer do que a esposa.
Filhos só dão problema. E problemas, cada um com os seus.
Antigamente, eu acreditava que para além da função básica de se ouvir um som, a audiofilia servia para aumentar o rol de amizades e estreitar as afinidades entre os amigos.
Talvez eu só tivesse me atentado para a primeira parte da definição do Aurélio, que explica que o elemento de composição “filia”, se traduz em amizade; afinidade, amor e afeição.
Talvez eu não tenha continuado prá frente e lido que ‘filia’ também pode querer dizer ‘tendência patológica’.
Foi a duras penas que aprendi que amizade é amizade, mas o som... Ah, o som... Isso é como paixão por amante secreta. Uma religião, um ópio.
Sem sacanagem, brinque com uma pessoa, mas não brinque com a aparelhagem de som dessa pessoa.
Quantos eu conheço que os filhos nem sequer podem passar perto.
De tantos eu sei que ficaram sem a família, mas que mantêm uma belíssima aparelhagem.
Eu mesmo faço de tudo pra não entrar numa briga, mas viro bicho quando estou disputando um aparelho.
É meu! Quanto quer?
Já soube de casos escabrosos, em que amigos disputaram a tapa aparelhos em leilões do e-Bay.
Hoje eu sei: brinque até com a mãe, mas não brinque com a aparelhagem de ninguém.
Quantos amigos eu já perdi, quantas amizades esfriaram, desde as mais fortes e sinceras até às bem superficiais, só porque eu não podia atender os interesses audiófilos prementes, só porque eu não mais podia ser usado em função de uma finalidade audiófila.
Vi-me praticamente substituído, suplantado, passado pra trás e largado, depois de ter servido e ter sido beijado por três vezes em frente do espelho.
Esse tipo de patologia parece ser imune ao sexo feminino, fazendo parte quase que exclusivamente do universo masculino.
Longe de mim, ingressar em elucubrações filosóficas góticas e ‘gosmóticas’, pior ainda se eu quisesse (Pai, afasta de mim esse cálice...), dar uma de psicólogo enólogo amador, de charuto na boca e com a cadeira na bunda.
Mas acho que enquanto as meninas exercitam o amor através de brincadeiras com bonecas, e exacerbam a subserviência através de brincadeiras de casinha, nós meninos exercitamos o ter e o poder através de nossos brinquedinhos.
Chega, já basta! O papo já ficou cabeça demais.
“Everybody must get stoned”.
O vilipêndio audiófilo se dá em diversos patamares da inferioridade humana, que vão desde simples e pura mesquinhez, até culminar no ódio.
Passa também por questões espúrias e econômicas, que elevam a carga explosiva da ganância avassaladora detonada facilmente pelo pavio curto dos interesses econômicos ou pessoais, que aí ninguém consegue prever como pode acabar.
Não bote muita fé na sinceridade das amizades criadas a partir do gosto em comum pelo áudio, claro que existem as exceções para confirmar a regra, mas precisei colecionar um sem número de decepções amargas para chegar a esta conclusão sabendo a fel.
Portanto, agora com o coração já calejado indico aos neófitos que adentrem o templo da audiofilia sempre pisando em ovos.
A primeira regra básica é não falar mal do equipamento de ninguém pela frente desse alguém, mas por trás desça o cacete.
A segunda, talvez... Bem, sei lá.
Sou uma merda nesse jogo e sempre me deixo enganar.
Rui Fernando Costa.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
CD Player Usher - e-mails entre Moruzzi e Rui
----- Original Message -----
From: Moruzzi
To: Rui Fernando
Sent: Friday’s, January 25, 2008 2:30 AM
Subject: CD Player Usher
Bicho,
Em uma análise rápida desta foto por dentro (que também não está lá essas coisas), o que você achou deste “player”?
Moruzzi.
----- Original Message -----
From: Rui Fernado
To: Moruzzi
Sent: Friday’s, January 25, 2008 5:22 PM
Subject: Re: CD Player Usher
Meu,
Ele tem um aspecto audiófilo; limpo, robusto, cara "hi-tech", e provavelmente conta com alta tecnologia embarcada, além de alguns daqueles destaques que audiófilo adora: tipo o trafo potado pra áudio e fonte sem ser do tipo “chaveada”.
Resumindo: aparência impecável própria para figurar ao lado dos mais finos equipamentos de áudio.
Resta saber o preço, e de preferência que seja muito elevado, pois assim teremos a indicação precisa de que o aparelho é destinado ao mercado audiota.
Ainda não consegui fechar na minha cabeça a validade atual desses ledores caríssimos, tipo Krell e outros que tais, principalmente depois que o Isaac me mandou um DVD ProView 858, que lhe custou R$150,00, e eu transformei num “avião” apenas trocando o CI e os capacitores de saída de áudio.
Não sei bem definir qual seja hoje o significado de se pagar mais de dez mil dollys num ledor de cedeis, sendo que um mequetrefe Proview tem tecnologia embarcada muito semelhante, quando não superior a esses equipamentos pretensiosos ditos para audiotas.
Quem sabe seja algo semelhante a possuir uma rica coleção de relógios, tal aquela do Faustão, ou mesmo aqueloutra composta pelos estupendos relógios apreendidos com o traficante JC Abadia.
No entanto, relógio fino é jóia e tem seu valor garantido, enquanto ledor de cedeis fica ultrapassado, quando não quebrado vira lixo, compartilhando do mesmo destino dos relógios com chip, que tornou acessível, em qualquer camelô, a precisão da marcação do tempo e que a produção em massa barateou tanto que não compensa sequer trocar a bateria.
Creio, sinceramente, que nem todos esses ledores baratuchos devam ser iguais uns aos outros e tampouco conheço internamente todas essas marcas “barbantes” que pululam pelos supermercados da vida, mas tenho informação, por exemplo, de que os DVDs da Oppo são ainda mais quentes do que este meu Proview, e que o preço deles não é assim tão superior.
Também te digo que pra mim nada ainda se assemelhou à cirúrgica precisão e controle de um Sony SCD1, mesmo os mais caros Marantz SA1, Wadia e Krell, que já habitaram a minha estante, mas são justamente esses extremos que mais engrossam o questionamento da razão em se pagar tão caro num ledor de cedeis, já que sabemos que as unidades óticas são finitas e não existem reposições disponíveis para troca.
Sempre defendi que a fonte sonora de alta qualidade é imprescindível para quem quer montar um conjunto refinado, e mesmo depois de passar anos tocando nessa tecla, ainda hoje vejo muita gente investindo em amplificação, em caixas acústicas e até nos mais estapafúrdios condicionadores de energia, enquanto se satisfaz com uma fonte sonora do tipo Meu Primeiro Gradiente.
A prática do descarte tecnológico da atualidade, onde todos os aparelhos que são lançados no mercado já estão superados, ainda mais ajuda a questionar a validade de se enfiar a mão no bolso, sujeitos a levar uma picada dos escorpiões que nele habitam, para investir uma fortuna de nosso rico e suado dinheirinho num lançamento ultrapassado.
Pra quê comprar ledores de cedeis, se nossa mente já está lá na frente a pensar em música tocada a partir de computadores.
Qual a tua principal forma de obter música?
1 - Através da compra de cedeis de gravação audiófila.
2 - Através da compra de qualquer cede, cujo conteúdo musical ou o preço lhe agradem.
3 - Através da gravação de cópias feitas em seu computador a partir de cedes emprestados.
4 - Através da gravação de música baixada nanete.
Então vamos pisar no freio, embora eu mesmo não siga muito à risca essa regra nas curvas da estrada de Santos.
Pare! Olhe bem para todos os lados.
Engate de novo a primeira e vamos divagar...
Se única e exclusivamente você se enquadra no primeiro item, então parta logo pros altos finais, de preferência comprando um ledor com capacidade para ler o praticamente extinto meio de gravação em SACD.
Se, no entanto, você mais se enquadra nos segundos e terceiros perfis, além de também dar uma viajadazinha pelo item 1, tal eu faço de vez em quando, aí aconselho medir bem o bolso e, se for o caso, partir pro sacrifício comprando um ledor de cedeis decente, mas sempre tentando fazer um bom negócio, que só é possível quando se evitam as explosões de paixão e se parte para uma profunda pesquisa bem fundamentada.
Se você mistura todos os itens, mas ultimamente vem caindo mesmo é no item quatro, invista num “notebook”, num “codec” valvulado, como fonte dedicada a alimentar seu sistema, mais um ledor de DVD invocado (não necessariamente no preço), que é o complemento ideal pra tocar de tudo.
Não sei se mais ajudei a atrapalhar, mas cada um tem seu próprio perfil e as coisas não são tão fáceis, simples e diretas assim, portanto, o ledor de cedeis que seria ótimo para mim pode não servir para você.
...e a fonte sonora continua sendo primordial para formar um sistema sonoro de boa qualidade.
Baita’bração,
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Holbein, Rui e Moruzzi: "Somos uno e indivisíveis".
não sei por que não fui "avisado" da criação do "blog" de vocês e nem ao menos sei o que seja "blog". Sei, entretanto, que sou enxerido, intrometo-me aonde não fui chamado, e aqui e agora estou a me "adentrar" no "cafeaudiofilia". Se aprovarem, divulguem, se não, deletem o texto. Continuaremos amigos. Porque é mentira de que a família que reza junta permanece junta, e que amigos que pensam do mesmo jeito escrevem no mesmo espaço.
Aliás, neste nosso mundo audiófilo o que não faltam são mentiras nem mentirosos; mentem tão completamente que acabam por crer que é verdade a mentira que deveras mentem. Como a mentira de que rompi com o Rui e de que o Moruzzi deixou de ser meu filho adotivo para se tornar filho rejeitado. Esquecidos de que somos uno e indivisíveis. Os caminhos é que são múltiplos.
São múltiplos e cheios de cascalhos; por isso que, além do risco de descaminho temos a nossa frente pedras no meio do caminho. Numa das quais tropecei após a morte de nossa querida Jarina; e ficamos os três órfãos, que carinhosa e acolhedora era nossa linda mãezinha artista.
Moruzzi em Santos e Rui Fernando na Bela Vista, ambos ficaram nos seus cantos; desviei-me eu para o ermo do Nordeste, Aqui neste terra onde nasci e conhecia tão bem, desencarnei dela, desconhecendo-a por completo. A cidade de Fortaleza é outra, progrediu para traz, de bucólica tornou-se feia megalópole, suja e malcheirosa (resultado da administração petista?); e de pacata virou intranqüila, de plana e simétrica transfigurou-se num amontoado de prédios esconsos e delgados para abrigarem homens de panças protuberantes e mulheres de ancas avantajadas. Então ocorre-me a dúvida: onde está a fome dessa gente gorda, hem?
Mas, mercê da bondade de meu santo padim pade ciço, a família que perdi aí no Sul Maravilha argentário e cúpido, ganhei cá neste Nordeste idiotamente transfigurado na burrice positivista da ordem e progresso, porque aqui o avessso é de fato o avesso do avesso (obrigado, Ceateno!). {Grilharam o Parque do Cocó o único rio com água de Fortaleza para construir "iguatemis", a referência capitalista cearense a engordar o bolo de políticos profissionais nascidos em berços esplêndidos construídos não de "sangue, suor e lágrimas" mas de negócios escusos gerados no ventre da antiga CEXIM.}
Aqui sobrinhos chamam-me de tio, primos me têm como filho de suas tias, cunhadas são as irmãs de minha mulher, padrinhos já os não tenho mais, hoje sou o ancião da família, o velho a quem a linhagem vem pedir conselhos. Infelizmente não tenho filhos, os que tinha tornaram-se herdeiros...
Assim, pois, hoje sou um outro homem ainda que continue amigo do Rui e do Moruzzi, e à disposição deles para o que der e vier.
Holbein.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Moruzzi Responde
R.: Pela praticidade!
Blogar é rápido. Leva o tempo de criar o texto e mandá-lo ao ar. Já um site dá muito mais trabalho.
P.: E por que vocês escolheram este nome para o blog?
R.: Pelo fato de nem eu e nem o Rui tomarmos bebidas alcoólicas. Caso contrário seria algo como "Cachaçaria Audiófila".
Na verdade o Blog foi ao ar pela primeira vez como Caffe Audiophilia, mas o Rui me pediu para "abrasileirar", e foi então que o Blog ganhou o nome atual.
P.: Vocês pretendem gravar podcasts?
R.: A priori não. Podcasts devem ser arquivos relativamente leves, gravados em 20 Kbps, no máximo gravados em 64 Kbps, e poxa, somos audiófilos! Duvido muito que alguém teria paciência para baixar um enorme arquivo gravado em 4608 Kbps simplesmente para ouvir o Rui e eu falando.
P.: Vocês pretendem ganhar dinheiro com este blog, não é?
R.: Sim. Muito dinheiro. E quando cada um de nós tiver conseguido comprar um pré-amplificador Accuphase, encerraremos o Blog.
P.: Moruzzi, você pretende criar uma seção de classificados, como aquela que você mantinha no outro site?
R.: Podem apostar que sim!
P.: E vocês irão cobrar pelos anúncios?
R.: Não. Da mesma forma que não cobrávamos no outro site.
P.: Por que apenas o Moruzzi e o Rui estão escrevendo para o Café Audiofilia?
R.: Eu prefiro - "apenas o Rui e o Moruzzi estão escrevendo...", já que eu pretendo escrever muito menos que ele.
O Blog é nosso, mas esperamos contar com colaborações de amigos.
Faz pouco tempo, num grupo de amigos do qual participamos houve um momento de euforia onde todos os participantes se prepuseram a unir forças para montar um site que versasse sobre áudio de forma aberta e franca, sem compromissos filosóficos e muito menos marqueteiros. Tudo muito bonito na intenção, mas na hora da realização, de botar mãos à obra e escrever a inibição foi geral e a coisa não saiu.
Eu e o Rui continuamos firmes, sem medo de errar porque sabemos que erramos bastante, sem medo de sermos felizes, porque o audiota é um eterno descontente e sem qualquer compromisso com “verdades” abissais, porque sabemos que é quase tudo mentira transitória. E ainda firmes fincamos nossa bandeira de retalhos “patchwork”, sempre no exercício de nossa liberdade responsável.
sábado, 17 de novembro de 2007
O Mapa da mina. (Na busca pelo Santo Graal).
Longe de mim a pretensão de dar uma de douto, pai superior da matéria, e muito menos quero ser pejorativamente tratado como guru, que o dono da verdade de há muito se isolou sozinho, sem amigos, a discursar solitário em infindáveis monólogos com o próprio umbigo.
Também não quero ofender, nem ao menos melindrar quem se aventura pelo campo sinusoidal do conhecimento eletrônico.
Em várias oportunidades manifestei a falta que faz um maior aprofundamento na área técnica, por parte dos entusiastas que mergulham no hobby da audiofilia, em especial os aparelhodófilos.
Alguns dos freqüentadores do Café Audiofilia são exemplos vivos de pessoas que sempre buscam mais conhecimento acerca do hobby que praticam.
As superficialidades vindas à tona naqueles que compartilham desse mesmo
gosto da gente propiciam que sejamos manipulados facilmente por espertos tendenciosos e preconceituosos, que sem despender muito esforço nos transformam de apaixonados por áudio em audiotas.
A área técnica é mais cheia de nuances do que pode o nosso parco conhecimento abraçar, portanto não existe o atalho direto para alcançar o Santo Graal. Há que empreender a cavalgada por desconhecidos caminhos tortuosos e atravessar a devastação dos campos de batalha.
Sempre que posso alerto para as vantagens de se aprender a ler os mapas dos circuitos eletrônicos, os diagramas esquemáticos, que apresentam a facilidade de serem grafados numa linguagem universal, não importando de onde sejam oriundos.
Os esquemas eletrônicos são mais universais do que o Esperanto e do que as partituras musicais.
Quem compreende os circuitos escritos através dos esquemas eletrônicos pode absorver, indistintamente, tanto a cultura ocidental, quanto a oriental; pode entender tanto o minimalismo suíço, quanto se desentender com a megalomania americana. Tal como saber ler os caminhos para poder traçar um destino.
Podem crer que para melhor compreender a audiofilia é muito mais proveitoso cursar eletrônica por correspondência do que ouvir palestras sobre percepção musical.
Ser um pouco mais técnico evita, mas não imuniza que sejamos transformados em audiotas, já que audiopatas sempre seremos.
Paralelo a isso vai bem também uma maior freqüência em salas de concerto e espetáculos de música ao vivo, só não vale o baixacum do baile funk, mas até vale o baticum na roda de samba.
Tudo em prol de diminuir o besteirol provindo dos pseudo-entendidos em aparelhagem de áudio, sempre munidos de arsenal digno do mais virulento mercenário, atirando para todos os lados pérolas das conclusões insensatas, embasadas na mais pura mitologia gereminiana, tão desconexa da técnica como um pum do pensamento solto ao vento.
Vieram-me à lembrança num
relance, as aulas de Análise de Circuitos da Faculdade de Engenharia. Na certa não foram em vão.
Analisar o circuito é o ponto de partida para compreender um aparelho.
Os Marantz 8 e Quad II são dois exemplos de um amplo universo de aparelhos excepcionais dotados de circuitos banais, pois quem manja de ler os esquemáticos logo saca que essas mesmas topologias estão igualmente presentes numa centena de outros concorrentes e que a diferença entre eles bem poderia ser atribuída a diversas causas, mas que certamente o maior diferencial se dá por conta da mitologia empregada na endeusação de determinadas marcas e modelos.
Para mim, o pré-amplificador Marantz 7 é o estereótipo disso tudo que estou tentando dizer.
O circuito do Marantz 7 não passa exatamente do mesmo circuito empregado pela quase totalidade dos antigos prés valvulados, que se perpetuaram até bem recentemente, quando então um ou outro projetista achou que era hora de inovar e procurou alternativas em matéria de circuitos para pré-amplificadores.
O Marantz 7 é um pré-amplificador e por isso mesmo não tem transformadores de saída de áudio que possam significar um grande diferencial de qualidade nos elementos utilizados, por outro lado, as partes componentes empregadas nem tão refinadas são, e o antiquado conceito de chaves comutadoras em profusão depõem através de inúmeros contatos e interrupções atrapalhando o caminho mais livre e desimpedido que
deveria ser percorrido pelo sinal de áudio.
Some-se a isso o fato de que a arcaica fonte de alimentação do aparelho em nada contribui para uma qualidade sonora com fluidez desentupida e isenta de ruídos.
O Marantz 7 tem dois estágios amplificadores de voltagem, em cascata, configurados como seguidores anódicos, acoplados a um estágio de seguidor catódico, para baixar a impedância de saída do aparelho.
Exatamente igual a uma centena de outros pré-amplificadores, dentre eles McIntosh, Conrad-Johnson e Audio Reserach.
Diferenças além das estéticas podem estar nas fontes de alimentação, nas partes componentes utilizadas e no nível de realimentação negativa aplicada.
Mas não tenha dúvida que o maior diferencial é o mito: fábula, lenda, mentira, mitomania.
Quando endeusam o Marantz 7, não me incomodo: melhor ouvir essas besteiras do que ser surdo e de vez em quando também me dou ao direito de soltar as minhas abobrinhas.
Reparem que citei exemplos antológicos, não apenas por estar acostumado a flutuar no vácuo termiônico, ou por considerar que as válvulas são ainda os dispositivos definitivos em matéria de reprodução sonora, mas principalmente por que se entrar no estado sólido as coisas tendem a ficar indefinidas sobremaneira, já que hoje quase tudo se baseia em circuitos integrados (CIs), que igualam os aparelhos na medida em que dispensam os circuitos projetados em favor dos circuitos comprados prontos.
Por força da mitologia já vi nego vender pré-amplificador montado com circuito SRPP, dizendo se tratar de cópia do Marantz 7.
Por força sei lá de quê nunca vejo esse tipo de análise de circuitos, nas revistas que passam aparelhos em revista.
O áudio por vezes é cheio de blablablá e pouca música.
Sei que audiotas gostam de ser enganados, mas só até onde lhes convém.
Rui Fernando Costa.